segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sir. Isaac Newton - Entre a ciência e a teologia

 Algo que sempre me intrigou é o desenvolvimento da moderna ciência e sua relação com a teologia. De fato, ao se analisar o surgimento da ciência moderna européia, é simples observar que seus mais bem sucedidos apostolos, nos vários âmbitos do conhecimento - humanidades, ciências matemáticas, história natural -, são orindos das camadas intelectualizadas das igrejas Católica, Anglicana, Luterana e demais. Isso é simplificadamente explicado pelo monopólio que essas instituições exerceram sobre o conhecimento, secular e teológico, até a modernidade. Os depósitos desse conhecimento, as bibliotecas, e seus códigos de interpretação, eram de pertencimento e uso exclusivo dos membros dessas instituições poderosíssimas.

Visto isso, uma relação lógica entre a produção de conhecimento científico e quem são seus agentes produtores é estabelecida; são esses membros do  próprio corpo eclesiástico ou algus poucos com acesso a essas bibliotecas e ao estudo dos códigos de interpretação, em especial o latim - grosso modo, lingua oficial do registro escrito na cristandade europeia, do império Romano até meados do séc. XIX.

Como estudante de graduação no curso de História, frequentador de cursos livres de Teologia Judaica e Cristã, curioso a respeito das relações estabelecidas pela religião historicamente e contemporaneamente, minhas inquietações sobre as relações entre os saberes teológicos e científicos aguçaram ao perceber o processo supracitado. Nesse sentido, uma de minhas buscas mais interessantes foi a respeito de Sir. Isaac Newton, esse inglês que influenciou de forma incontestável a forma de se fazer ciência, logo, a totalidade da sociedade dita moderna e contemporânea. Conhecido por todos como um dos pais fundadores da ciência moderna, observamos sua teoria da gravitação universal como a obra prima de sua vida. O livro "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural", onde expõe suas mais bem acabadas conclusões a respeito de uma lógica física e matemática balisadora dos movimentos dos astros e corpos materiais existentes em nosso Universo, é, por poucos conhecida, como uma obra teológica, mas sim uma obra de ciência pura. Não afirmo aqui sua exclusividade teológica, mas sua parcela. Newton não apenas era um estudioso das ciências naturais, tão discutidas na Royal Society, mas também um entusiasta dos estudos de algo poderoso em seu tempo, as "verdades" da teologia.

Capa de livro de estudo sobre as profecias
 de Daniel; autoria de Sir. Isaac Newton.
Fluente em latim, grego e hebraico antigo, dono de uma vasta biblioteca que abarcava um grande número de obras de cunho teológico, dedicou-se em grande medida ao estudo dessa matéria. Em busca de um verdadeiro cristianismo, purificado das corrupções de tradução e interpretação cometidos pela tempo, Newton era um apologista de um cristianismo à sua própria maneira. Como assinalado acima, Issac Newton, curioso e imbuído de espírito investigador, teria estabelecido estudos científicos, essa busca por uma lógica Universal nos movimentos dos corpos materias, com o propósito de elucidar, com uma linguagem científica, a existência e forma de atuação de Deus. Essa conclusão a priori rasa ou infundada pode ser averiguada no próprio Principia, onde Newton expõe em um pequeno capítulo suas motivações em estudar a lógica regente do Universo.

É claro que a forma cartesiana, empírica de se fazer uma investigação sobre algum problema está presente em Newton. Afinal, ele é fruto dessa geração que reinterpretou os clássicos da filosofia antiga, dos gregos e romanos, mediados pelas escolas de tradutores de origem árabe, como a de Toledo. Porém, talvez para não macular esse baluarte da ciência moderna com os princípios "irracionais e sujos" da teologia, sua parcela de motivação teológica não é lembrada, é esquecida.

Para ver mais: http://www.newtonproject.sussex.ac.uk/prism.php?id=1 (Newton Project - Projeto da Universidade de Sussex, Inglaterra. Esse projeto almeja a publicação on-line de textos conhecidos e não conhecidos de Isaac Newton. Dentre os não conhecidos se encontram um número imenso de obras de teologia, corroborando com a tese de suas motivações teológicas nas investigações acerca do Universo e sua lógica matemática)

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