terça-feira, 19 de outubro de 2010

Histórico do liberalismo norte-americano


Pais Fundadores da Nação
Desde os “pais fundadores” do século XVII os EUA detêm um futuro delimitado; eles, os habitantes da Nova Inglaterra, acreditavam que ali, naquelas novas terras, fundariam além de um novo povoado, um novo povo. Esses pensamentos serão em grande medida fomentadores do processo de independência, e sua consolidação com as guerras civis do século XIX. Um país que prima pela liberdade, e têm um destino traçado, o destino de abrigar grandes homens, líderes, só poderá também ser grande, e um líder, acreditavam os indivíduos da Nova Inglaterra. Toda essa trajetória cria uma identidade específica para a nação americana, identidade essa que triunfará no século XX, quando a América se intitulará guardiã do mundo ocidental, e, adentrando o mundo oriental. É essa trajetória política, econômica, militar, dos EUA do século XX, que o livro “O Século Inacabado – A América desde 1900”, organizado por William E. Leuchtenburg, trata com detalhes.

A obra trata da história dos EUA em todos os seus aspectos, trazendo visões diversificadas e análises profundas. Tendo em vista tanto as dinâmicas internas quanto externas dos processos pelos quais o país passou, a obra, ao meu ver, prima pela política externa norte-americana, e é nesse aspecto que vou me deter. Os EUA têm sua história no século XX marcada por sua liderança internacional; essa nação cria novas regras para o jogo político mundial, colocando o então centro do mundo – a Europa – em segundo plano, e tomando seu lugar como protagonista.

O início do século foi duro e é analisado no primeiro capítulo do volume II por Robert. H. Ferrell. O capítulo intitulado “O Preço do Isolamento”, é uma visão dos primeiros anos da século XX até seu acontecimento mais marcante, a II Grande Guerra.

Aqui o autor nos mostra os anos 20 do Presidente Coolidge, marcado pelo seu extremo liberalismo econômico, culminando em seu ultimo ano de mandato, 1929, numa crise em escala mundial, com o chamado “crack” da bolsa de Nova Iorque.

Os anos de recessão que se seguiram foram difíceis. As exportações, que em 1920 marcavam os U$ 8.664 milhões, chegaram a U$ 2.300 milhões em 1935. Essas foram as conseqüências da crise de especulação gerada por um complexo de problemas, mas que a política liberal de Coolidge contribuiu em grande escala. Mas tal acontecimento mostra que já nesse momento os EUA desempenham um papel central na direção dos mercados que começam a se integrar e criar o que virão a chamar de economia de mercado mundial.

Os anos 1930 foram aqueles que sofreram as conseqüências dos excessos do início do século, a chamada Depressão. Políticas econômicas tentavam barrar a convulsão de problemas gerados pelo seu estopim, a queda da bolsa de Nova Iorque, e a política externa norte-americana ficou de certa forma paralisada. Mas para R. H. Ferrell a crise econômica ajudou a resolver uma questão ainda remanescente da I Grande Guerra, a charada das dívidas e reparações de guerra.

Após muito esforço as economias se reerguem, e o mundo se depara com novas questões e problemas, a ascensão de Adolf Hitler na Alemanha. O presidente em exercício desde 1933, Franklin Delano Roosevelt, foi o encarregado de tratar essas questões. Para Ferrell, Hitler é um novo Átila, e o EUA aquele de tem o dever de freá-lo. E, segundo Ferrel, é o que faz; em suas frentes do Pacífico e do Atlântico, chegam triunfais até Berlim, destronando este Átila alemão e erigindo um novo império, o norte-americano. Os números de exportação mudam: os singelos U$ 2.300 milhões de 1935, passam para U$ 10.100 milhões em 1945. O EUA exporta para o mundo.

Roosevelt é um presidente com grande habilidade diplomática e senhor de um bom senso raro. É ele quem reconhece a URSS como nação, algo que os presidentes anteriores ignoraram, e reconhece sua grandeza, em especial após a II Grande Guerra.

Após a guerra, novas questões se colocam, e os EUA tomam frente na conformação dessa nova sociedade oriunda dos suplícios dos anos de guerra. Essa análise é feita por David F. Task, em seu capítulo de nome “A República Imperial”. Em abril de 1945, em São Francisco, é reunida uma conferência de nações com o intuito de redigir a carta constitutiva de uma agência de segurança global: a Organização das Nações Unidas. O fato de sua sede ser em Nova Iorque é sintomático dos planos Americanos para o mundo. O Kremlim não via nada na organização que parecia garantir o futuro da URSS. Os EUA então se conformam, ou se impõem, como potência chave para organizar o mundo liberal.

As décadas do pós-guerra são complexas, e a chamada Guerra Fria é uma constante; são guerras veladas em nome de outros – o Vietnã é um exemplo. Não só explicitamente, mas presente no dia-a-dia de todos, a Guerra Fria – esse entrave político entre comunistas e capitalistas liberais – é conformador de uma geração conflitante. Os movimentos sociais de toda sorte, tendo como palco os EUA, são exemplos de como a sociedade do pós-guerra passou a refletir e repensar tradições; passou então a configurar novas idéias e visões de mundo. Muitas tradições remanescentes não cabiam mais num mundo em que os direitos humanos gritavam. A emancipação feminina, dos negros, são exemplos de lutas do contexto dos filhos da II Grande Guerra. Esses são os precursores de um novo dia, aqueles que lutaram pela efetivação das liberdades tão caras ao imaginário norte-americano. Tais questões foram abordadas por William E. Leuchtenburg, em seus capítulos “A Cultura de Consumo e a Guerra Fria” e “As Dores de Parto do Liberalismo”.

A economia de mercado se impõe, a cultura do consumo é exportada e o American Way of Life é refletido para todos os cantões do mundo. Mas nas palavras do autor, esse triunfo foi como um parto. Foram processos difíceis, “distúrbios que quase destruíram” o mundo que se conhecia, e culminou no erigir de uma nação como o mundo contemporâneo ainda não havia vislumbrado. Os moldes políticos norte-americanos são exportados e eles extrapolam até os limites terrestres, dominam os astros, chegam a Lua em 1969. Contudo todo esse discurso é claramente recheado de um nacionalismo exacerbado, presente em toda a obra. Em alguns trechos de forma declarada. Os autores supracitados estão convictos de que os EUA cumprem um papel quase providencial de líder mundial, demonstrando sua superioridade e controle sobre o globo como prova disso.

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